sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Pit Bull vs CBKC - E a chegada da raça no Brasil

Galeria e referências no final do texto
A chegada da raça no Brasil...
Nos anos 1980 já existiam Pitbulls no Brasil, trazidos de forma discreta por pessoas de posse, exclusivamente para a realização de rinhas.
Dizem que o primeiro a trazer o APBT para o Brasil foi Rui Brossard, do Rio Grande do Sul em meados dos anos 1970. Sabemos que ele realmente possuiu os cães, mas há quem duvide que ele foi o primeiro.
Voltando aos anos 1980(~1984)... Pitbulls das linhagens Paladin e Garner foram importados para o Rio de Janeiro por Lindolfo Collor, com registro ADBA.  E nos anos 90 também no Rio de Janeiro, o Dr. Paulo Homero Lontra e Antônio Schembri trouxeram mais pit bulls, das linhagens Patrick e Bellon.

O pessoal do RJ usou os cães de Rui Brossard também na criação.

Tornou-se moda principalmente entre os lutadores de jiu-jitsu, possuir pit bulls, principalmente porque é dito que um dos integrantes da família Gracie estava entre os proprietários pioneiros de pit bull no Brasil e Rio de Janeiro.

Em São Paulo, é dito que o primeiro Pit Bull à chegar foi um macho sem registro chamado Playboy, trazido pelo senhor Stevenson. Depois, o senhor Shimalaia trouxe um casal (Rock Orioli e Miss Bull Orioli) muito importante que tornou-se base de cerca de 50% do plantel nacional(dado especulado em 2005) e que foram os avós(juntamente com o Playboy) do Pit Canchin(cão base da linhagem Canchin).  E no final dos anos 90 chegaram os cães que deram fama aos "Thompsons".

Como já dito, os primeiros cães foram trazidos para rinha. Porém, a partir da metade dos anos 90 começaram a trazer o pit bull para ser utilizado como cão de guarda (pura ingenuidade), pensamento impulsionado pelas lendas e relatos de cães "violentos". Os cães Thompson são um exemplo disto, e foram trazidos para este propósito. O primeiro cão adestrado para função de defesa foi Jeep, do João Coraçar(J.E Dog training)

Com a fama de violento cão de combate, as pessoas começaram a ouvir histórias fantásticas sobre a nova raça recém chegada ao Brasil. E estas histórias fantasiosas e sensacionalistas deram grande popularidade ao pit bull, que ganhou espaço nas lendas urbanas.

Em meio a escassez de exemplares puros compatíveis, os comerciantes/vendedores percebendo a busca imensa e desproporcional ao número de exemplares existentes, não hesitaram em vender e propagandear cães mestiços que foram espalhados pelos quatro cantos do Brasil. Cães estes que geraram inúmeros incidentes que tiveram grande repercussão na mídia.

A CBKC...
Percebendo o enorme potencial comercial da raça, a CBKC* passou a buscar um meio de emitir pedigrees nacionais para os cães. Como a raça não era reconhecida pela FCI*(a entidade maior à qual a CBKC é afiliada), a CBKC num primeiro momento terminou colocando o pit bull no recém-criado grupo 11 (Grupo das 'Raças não reconhecidas pela FCI') e passou a emitir os pedigrees e RI*(Registro Inicial).

Mas houve um problema, a raça possuía dois padrões(UKC* e ADBA*), qual seguir?
Em 2000 a CBKC orientou os criadores a seguir o padrão que bem entendessem(um dos dois). Porém a decisão não deu muito certo. Como medida, em Janeiro de 2002 a CBKC criou um padrão próprio para o Pit Bull e deixou em aberto à modificações de acordo com sugestões dos criadores. Isto também não deu nem um pouco certo. Então finalmente, a CBKC resolveu adotar o padrão imposto pelo UKC, traduzido em português.

Pit Bull vs CBKC...
Neste meio tempo em que a CBKC não estabeleceu um padrão para seguir e lançou seu próprio padrão em caráter experimental, vários cães sem origem conhecida (e fora dos padrões originais americanos) tiveram a oportunidade de receber um RI (Registro Inicial) como sendo Pit bulls puros.

Para quem não sabe, um RI é conseguido da seguinte maneira: o proprietário com um cão sem pedigree vai até um local para que um Juiz de exposições observe o seu cão, e através de uma avaliação visual mesmo, defina se o cão está dentro do padrão e se é da raça. Se o cão for aprovado, recebe o RI. Detalhe: muitos dos juízes que "avaliavam" os cães para conceder RI, nem conheciam a raça.
Então é de se imaginar quantos cães fora de padrão, sem procedência, de origem extremamente duvidável e MESTIÇOS conseguiram obter um registro como sendo Pit bulls. E este erro traz consequências até hoje, pois seus descendentes continuam sendo registrados.

Padrão...
Hoje a CBKC impõe o padrão estabelecido pelo UKC, porém parece que os Juízes que avaliam os cães nas competições de conformação não entenderam o que leram, ou ainda estão seguindo o padrão experimental criado pela CBKC á tempos atrás. Pois, boa parte dos cães premiados e preferidos pelos juízes nas exposições não atendem ao padrão oficial da raça no país de origem.

No arquivo PDF do padrão publicado pela CBKC(e que é a tradução do UKC) a entidade brasileira põe uma imagem como ilustração da raça. Na maioria dos padrões de outras raças que a entidade registra, quando há uma imagem no PDF, é fácil encontrar os dizeres: "Esta imagem não representa necessariamente o exemplo ideal da raça". Porém isto não acontece no arquivo do padrão do pit bull.

E a ilustração presente no arquivo publicado pela CBKC, ironicamente, apresenta um cão bem FORA DO PADRÃO.
Mossad, do, provavelmente extinto, canil Best Trump Kennel.
Cão que ilustra o arquivo PDF do padrão do pit bull publicado pela CBKC.
Reparem na linha superior (dorsal), que lembra a de uma fila brasileiro.
Encontrei um pedigree online sem foto, com nome ligeiramente diferente: Red Mossad of Best Trump Kennel,
filho de Amichetti Crocodile e Amichetti Bora Red. Não sei se é o mesmo cão.
Seria compreensível, se considerássemos o ano em que esta foto foi utilizada. Mas, por que continua lá? O próprio UKC em seu site oficial, possui uma gravura própria como ilustração no padrão(apesar de ilustrar apenas o busto do cão). A CBKC poderia utilizar a gravura citada, ou simplesmente utilizar a foto de um grande campeão do UKC do passado ou uma gravura baseada em um deles.

E além de tudo isto sobre o padrão, em se tratando de pit bull, para a CBKC a procedência parece não ter valor. Para a CBKC um RI ou um registro procedente UKC-ADBA, têm o mesmo valor. Como se isto fosse verdade. Cães descendentes de exemplares RI continuam ganhando e ganhando exposições Brasil à fora.

Com isto, concluímos que a CBKC parece não ter consideração pelo Pit Bull. E por que teria? Não é mesmo? A CBKC pertence a um sistema(FCI) que não reconhece a raça, e portanto não tem nenhuma obrigação de registrá-la, tampouco tem o direito de arruiná-la. Mas mesmo assim, parece realizar as duas façanhas.

Eu tenho esperança de que um dia isto mude(para melhor). E é com este propósito que escrevi este breve texto.
 Acompanhe a galeria de fotos logo após estas sugestões e observações
* O que é pedigree? E o pedigree do Pit Bull
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
OBS.: Verifique o arquivo publicado pela CBKC aqui:
http://cbkc.org/application/views/docs/padroes/padrao-raca_215.pdf (atualizado 2017)

E o padrão publicado pelo UKC aqui:
https://www.ukcdogs.com/docs/breeds/american-pit-bull-terrier.pdf  (atualizado 2018)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* CBKC - Confederação Brasileira de Cinofilia. O mais popular clube cinófilo do país.
* UKC - United Kennel Club. Entidade americana que reconhece e registra o Pit Bull desde 1898.
* ADBA - American Dog Breeders Association. Entidade que reconhece e registra o Pit Bull desde 1909.
* RI - Registro Inicial. Documento dado a um cão sem origem conhecida e que aparenta pertencer à determinada raça.
* FCI - Federação Cinológica Internacional.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Galeria no final do texto
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
FONTES:
* http://www.petbrazil.com.br/bicho/caes/030.htm O Pit Bull e a CBKC
* http://www.petbrazil.com.br/bicho/caes/030a.htm Quadro: Um pit bull excelente apresenta...
* http://racoesviana.com.br/artigo_detalhe.php?id=5&e=-American-Pit-Bull-Terrie (Ctrl+F e digita a situação atual no Brasil) A chegada do pit bull no Brasil
* http://orkut.google.com/c66558-t48a53b53e9a61dac.html Discussão sobre os 1º pits do Brasil. Final do texto.
* http://www.network54.com/Forum/671359/thread/1335560573/Enquete+dos+BELLONS Fórum com discussão sobre os cães Bellon que foram trazidos ao Brasil.
* http://sentinelkennel.xpg.uol.com.br/koat.htm A chegada dos Bellon ao Brasil.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
GALERIA

  
Playboy. O primeiro Pit Bull de São Paulo. Sem registro genealógico.


Miss Bull Orioli. Cadela que foi importada para o Brasil.
Pedigreee online aqui
Rock Orioli. Cão importado para o Brasil.
Pedigree online aqui
Pit Canchin. Descendente de Miss Bull Orioli, Rock Orioli, e Playboy.
Base da linhagem Canchin. Pedigree online aqui
Locco's Bad Dog(ou Loco's baddog, ou Amazona's bad dog). Cão produzido por Rui Brossard, porém
de propriedade do canil Locco's Kennel. Pedigree online aqui
Ramon's Smoke Jet. Cão produzido por Lindolfo Collor.
Pedigree online aqui
Loco's Shark. APBT branco produzido pelo Dr. Paulo Homero Lontra, porém
não de sua propriedade. Cão sobrinho do Bad Dog. Pedigree online aqui
Bellon's Tyson. Dos primeiros exemplares da linhagem Bellon trazidos ao Brasil.
Pedigree online aqui
* Pedigree online completo do cão Rui's Macaco, de propriedade de Rui Brossard:  https://pedigree.gamedogs.cz/details.php?id=196554

Gostaria de mencionar o Pit Bull Club do Brasil, que atua no Rio de Janeiro desde 1991.


INDICAÇÃO
Para quem procura cães procedentes ou é fã da raça, eu indico seguir a recém-formada
Associação Brasileira do American Pit Bull Terrier (ABRAPIT), uma associação que se comprometeu com a procedência e preservação da raça. 

19 comentários:

  1. A gente luta tanto pra manter a raça sempre pagando caro ppr exemplares de qualidade pra vem uns vermes desses destruir a raça, chegando ate premiar caes que nao faz parte da raça. É fd.

    ResponderExcluir
  2. Ótima e maravilhosa matéria ! irei compartilhar ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Tens fotos do cão que o Jairo Teixeira utilizou como padreador da linhagem Brossard ?

      Excluir
    3. não. Qual era mesmo o nome do cão que ele mencionou? Posso tentar encontrar.

      Excluir
    4. Eu tenho a foto dele. É o Joe, a foto se encontra no artigo sobre a linhagem brossad.
      Qualquer coisa me chama

      Excluir
  3. No Nordeste, os Pit Bulls foram trazidos para rinha, já que por aqui ainda existe a cultura das rinhas de galo.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pelo belo artigo, sou criador de pits da década de 90 e estava parado a alguns anos, retornando agora. Ver um material desse qualidade me deixa muito feliz, saber que ainda existem criadores sérios em nosso país.
    Queria pedir aos amigos que criem pits e estejam abertos a troca de informações que se puderem entrem em contato comigo, estou com três exemplares bem jovens comigo, o macho é linha Gym/Patrick, uma das fêmeas e Old Red Family e a outra Gym/Eli.
    Um grande abraço a todos que amam Bulldogs de verdade...👍

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fico feliz em ver um comentário como o seu. Qual o nome do seu canil(ou qual será?)?
      Abraço.

      Excluir
    2. Entra em contato Fábio (21)970043630

      Excluir
  5. No Rio de Janeiro um dos pioneiros foi o Rafael, que inclusive teve um plantel fantástico tendo como reprodutor um cão Patrick chamado Pelayo.
    Trouxe alguns cães do seu canil, desde a época que ele tinha um cão chamado Pajé...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. eu agradeço por agregar esta informação, acredito que há muito mais informações sobre a chegada da raça ao país, mas que parte não está registrada.

      Excluir
  6. Olá, boa noite. Parabens pelo blog. Quero tirar uma dúvida. Não sei se entendi direito, a linhagem CANCHIN iniciou com um exemplar, O PLAYBOY, sem registro genealógico. Portanto, como os descendentes possuem pedigree? Obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. boa pergunta, a CBKC deu registro para todos os cães com o mínimo de semelhança com pit bull. Por isto, o pedigree cbkc não tem validade para o pit bull, pois muitos cães sem procedência conseguiram registro, incluindo até muitos cães mestiços.

      Excluir
    2. copie este link e assista: https://www.youtube.com/watch?v=zW38dYSwUnM

      Excluir
    3. Obrigado, guerreiro. Sempre que tenho alguma duvida ou quero estudar sobre o APBT seu blog e uma parada garantida. Parabens pelo trabalho e seriedade.

      Excluir
  7. Excelente matéria!
    Vivi boa parte desta historia,incluindo a inserção do Game Dog (Rogerio Conti),e Pit Gameness (Rodrigo Batista),esportes de essencial importância pra aceitação dos pits pro grande público.

    ResponderExcluir
  8. O Mossad eu trabalhei com ele, era um belo câo, hoje achei essa materia falando dele, tanto tempo depois, nem acredito.

    ResponderExcluir

Páginas